Foto de Pedro Palma
Estavas sentado e havia uma paisagem agreste
nos teus olhos: as nuvens a prometerem chuva,
os espinheiros agitados com a erosão das dunas,
um mar picado, capaz de todos os naufrágios.
O teu silêncio fez estremecer subitamente a casa -
era a força do vento contra o corpo do navio; uma
miragem fatal da tempestade; e o medo da tragédia;
a ameaça surda de um trovão que resgatasse a ira
dos deuses com o mundo. Quando te levantaste,
disseste qualquer coisa muito breve que me feriu
de morte como a lâmina de um punhal acabado
de comprar. (Se trovejasse, podia ser um raio
a fracturar a falésia no espelho dos meus olhos.)
Hoje, porém, já não sei que palavras foram essas -
de um temporal assim recordam-se sobretudo os despojos
que as ondas espalham de madrugada pelas praias.
(Maria do Rosário Pedreira)
2.6.06
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3 comentários:
Temporalmente forte o poema
o que geme em fúria
é o peso dos despojos...
Um abraço
Morfeu
Poema muito forte, onde cada palavra acentua a forma de cada sentimento sofredor.
Desculpa, não me sei exprimir melhor hoje.
beijos
Que poema belo.
Simultaneamente é delicado
e forte...
Continua a sorrir!
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