22.6.06

Confissão

Foto de André Silva colhida aqui

Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh'alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
..............................................................
Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!...

(Florbela Espanca)

6 comentários:

wind disse...

Amor e ódio a dicotomia aqui perfeitamente descrita. bela foto:) beijos

SL disse...

Florbela...muito boa rapariga, parece-me. Ainda bem que parece teres gostado daquela coisa que deixei no sentidos... vai ser uma surpresa para muitos dos leitores habituais.
Jinhos

Delfim Peixoto disse...

Só Florbela.
Uma escolha linda, como o poema
bjnhs doces

Anónimo disse...

bonito!

Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes disse...

Não o tinha feito mas faço-o agora, o teu poema está fantástico, cheio de sentimento. Parabéns pela riquesa da poesia. beijinhos

lena disse...

Florbela Espanca numa confissão perfeita onde amor/ódio estão tão presentes

beijinhos para ti menina linda que sabe partilhar e encantar

lena