27.10.06

O amor cerra os olhos ...

Foto colhida na net, aqui.

O amor cerra os olhos, não para ver mas para absorver: a obscura transparência, a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: a alegria. Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias. O amor conhece-se sobre a terra coroada: animal das águas, animal do fogo, animal do ar: a matéria é só uma, terrestre e divina.

(Alexandre O'Neil)
in Três Lições Materiais(1989)

20.10.06

Toca-me onde me dói ...

Foto colhida na net, aqui.

Toca-me onde me dói e verás
uma flor a abrir-se lentamente
sobre a pele, a maravilha nunca
adivinhada de um mistério. Esta

é a tua vez de o desvendares .
paixão é uma palavra demasiado
antiga no meu corpo, já não sei a
última vez, a única vez. Toca-me

por isso devagar, não me lembro
da primavera que fez nascer a
doença sobre a ferida, não sinto
o recorte da cicatriz que o tempo

pousou nela. Agora chama-me ao
teu peito com as mãos, tal como a
chuva chama pelos narcisos sem

cessar, ano após ano; diz o meu
nome com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido

de uma aldeia. Não me adivinhes .
lá, onde me doer, vou recordar-me.

(Maria do Rosário Pedreira)

9.10.06

Superação

Foto colhida na net aqui.

Fechei-me dentro dos muros
onde o meu corpo não cabia
contente de ser priosioneira
do cárcere que eu transcendia.

E fui no vento que tudo
tudo o que havia varria,
contente de ser mais veloz
que o vento que me impelia.

Fiquei suspensa dos ramos
que os meus cabelos prendiam
contente de ser o destino
da árvore em que me fundia.

E dei-me como leito às águas
dos sonhos que me transcorriam
contente de ser o curso
da água em que me esvaía.

(Natália Correia)

3.10.06

Rio vai, vai …

Foto de Manuela Vaz

Rio vai, vai …
desagua no mar
desagua na ternura
deixa o desespero calado
rasgar a tua angústia
ladeada pelas tuas margens
doutro rio
A Vida

(Fernando Bouça)