15.10.05

Vegetal e só

Foto de Pedro Costa Pereira colhida em www.olhares.com/

É outono, desprende-te de mim.

Solta-me os cabelos, potros indomáveis
sem nenhuma melancolia,
sem encontros marcados,
sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito,
o mais ardente dos meus braços,
o mais azul,
o mais feito para voar.

Devolve-me o rosto de um verão
sem a febre de tantos lábios.
Sem nenhum rumor de lágrimas
nas pálpebras acesas.

Deixa-me só, vegetal e só,
correndo como um rio de folhas
para a noite onde a mais bela aventura
se escreve exactamente sem nenhuma letra.

(Eugénio de Andrade)

5 comentários:

Menina Marota disse...

Uma imagem maravilhosa para ilustrar um poema soberbo. Gostei muito!
Grata pelas palavras no Eternamente Menina.
Um abraço e boa semana para ti ;)

Salatia disse...

A sugestão de imagens deste poema são de extrema beleza...em consonância com a imagem que partilhaste...uma semana cheia de power. Um beijo.

Pink disse...

Menina Marota e Salatia, vejo que ambas se encantaram não só com o poema mas também com a imagem. Eu, de facto, achei-a uma imagem cheia de força e lindamente adequada ao poema. Obrigada pelas vossas palavras.
Beijinhos

Pink disse...

Obrigada pelas tuas palavras simpáticas e pela tua presença que aqui se começa a tornar assídua.
Um beijo

Pink disse...

Pois sim, amigo Jorge: somos dois!!
Beijinho e bom fim de semana