Foto de António Matias
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
sem ser dor ou ser cansaço
nem o corpo que disfarço
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
nunca dizendo comigo
o amigo nos meus braços
Comigo me desavim
minha senhora
de mim
recusando o que é desfeito
no interior do meu peito
(Maria Teresa Horta)
29.1.06
28.1.06
Parábola
Foto retirada de http://pro.corbis.com/
No silêncio do parque abandonado
O repuxo prossegue a sua luta;
É um desejar alado
A sair de uma gruta.
Ergue-se a pino no céu como uma lança;
Ergue-se a pino, e sobe na ilusão;
Até que a flor do ímpeto se cansa
E cai morta no chão.
Mas a raiz do Sonho não desiste;
Subir, subir ao céu, alto e fechado!
E o repuxo persiste
Na solidão do parque abandonado.
(Miguel Torga)
No silêncio do parque abandonado
O repuxo prossegue a sua luta;
É um desejar alado
A sair de uma gruta.
Ergue-se a pino no céu como uma lança;
Ergue-se a pino, e sobe na ilusão;
Até que a flor do ímpeto se cansa
E cai morta no chão.
Mas a raiz do Sonho não desiste;
Subir, subir ao céu, alto e fechado!
E o repuxo persiste
Na solidão do parque abandonado.
(Miguel Torga)
26.1.06
Fresta
Foto colhida em http://pro.corbis.com/
Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.
(Fernando Pessoa)
Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.
(Fernando Pessoa)
25.1.06
Plena mulher ...
Foto retirada de happycarpenter.blogs.com/
Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
Que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos
e dois corpos por um só mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos ténues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo nocturno,
até ser e não ser senão na sombra um raio.
(Pablo Neruda)
Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
Que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos
e dois corpos por um só mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos ténues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo nocturno,
até ser e não ser senão na sombra um raio.
(Pablo Neruda)
23.1.06
Onde quero entender passa uma nuvem
Foto de Pedro Palma retirada de www.olhares.com/
Onde quero entender passa uma nuvem.
Malogra-se na sombra o vão intento.
Por mais que à luz os pensamentos uivem
Próprio é da vida banir o entendimento.
Ingénuo o coração despe-se e nu vem
A inocência soltar do sentimento.
Que à sem-razão do coração se curvem
Discursos que motivam o sofrimento.
Se a viver só me entendo com o que ignoro
Mais ciente serei se rio ou choro,
Menos me assiste o pensamento ufano.
Sucumba a ideia que a razão instiga
A esclarecer-me; que a mente entregue à intriga
Do entendimento não logra mais que engano.
(Natália Correia)
Onde quero entender passa uma nuvem.
Malogra-se na sombra o vão intento.
Por mais que à luz os pensamentos uivem
Próprio é da vida banir o entendimento.
Ingénuo o coração despe-se e nu vem
A inocência soltar do sentimento.
Que à sem-razão do coração se curvem
Discursos que motivam o sofrimento.
Se a viver só me entendo com o que ignoro
Mais ciente serei se rio ou choro,
Menos me assiste o pensamento ufano.
Sucumba a ideia que a razão instiga
A esclarecer-me; que a mente entregue à intriga
Do entendimento não logra mais que engano.
(Natália Correia)
21.1.06
Tudo o que ficou por dizer
Foto de Manuela Vaz
Tudo o que ficou por dizer
porque de repente
era a hora do combóio
ou um telefone longínquo tocava
ou um qualquer acidente
aconteceu.
Tudo o que ficou por dizer
porque o pudor calou a voz
porque um orgulho surdo a interrompeu
porque as palavras talvez já nem chegassem
ou era tarde
e o cansaço aos poucos foi levando a melhor.
Tudo o que ficou por dizer
porque a dor doía em demasia
e era necessário que as palavras
fossem capazes de ser claras como o ar
porque as palavras traem
como gumes de facas que nos cortam.
Tudo o que ficou por dizer
porque a tristeza apertou tanto a garganta
que nenhum som saía
nem o olhar continha
em desespero
uma lágrima ainda assim contida.
Tudo o que ficou por dizer
porque o tempo urgente
se esvaía
e de repente já não estava
no lugar a quem havia que o dizer
quem ainda há pouco nos ouvia.
Tudo o que ficou por dizer
e tudo
o que ficou por dizer
ou tudo
sempre
por dizer.
(Bernardo Pinto de Almeida)
Tudo o que ficou por dizer
porque de repente
era a hora do combóio
ou um telefone longínquo tocava
ou um qualquer acidente
aconteceu.
Tudo o que ficou por dizer
porque o pudor calou a voz
porque um orgulho surdo a interrompeu
porque as palavras talvez já nem chegassem
ou era tarde
e o cansaço aos poucos foi levando a melhor.
Tudo o que ficou por dizer
porque a dor doía em demasia
e era necessário que as palavras
fossem capazes de ser claras como o ar
porque as palavras traem
como gumes de facas que nos cortam.
Tudo o que ficou por dizer
porque a tristeza apertou tanto a garganta
que nenhum som saía
nem o olhar continha
em desespero
uma lágrima ainda assim contida.
Tudo o que ficou por dizer
porque o tempo urgente
se esvaía
e de repente já não estava
no lugar a quem havia que o dizer
quem ainda há pouco nos ouvia.
Tudo o que ficou por dizer
e tudo
o que ficou por dizer
ou tudo
sempre
por dizer.
(Bernardo Pinto de Almeida)
20.1.06
Pudesse eu ...
17.1.06
Revelam-se puros os meus dedos ...
Nudes IV, de Alfred Gockel
Revelam-se puros os meus dedos sobre
a tua pele, onde me deito e o desejo rasga
a minha voz em asas de silêncio.
Acendem-se como lâmpadas para te encontrar
e, como aves libertas, acordam a noite,
poisam devagar nas tuas pernas,
debicam os teus seios
e descem lentamente as tuas costas até ao fundo e surpreendem-se,
enlouquecem as tuas nádegas macias e brancas,
quentes, como os alegres pães da minha infância.
E o teu corpo estremece, desperta para uma interminável madrugada,
onde não há palavras,
onde não são precisas palavras,
e uma intensa alegria tem o sabor dos teus beijos
quando os nossos lábios acendem uma fogueira de rosas
que ilumina a solidão pela noite fora.
E tudo me perturba. De tudo me esqueço
quando nos tocamos, assim, até ao fundo.
Quando me ofereces no teu corpo a paisagem livre e apetecida
de um campo perfumado,
um sereno lago,
o bosque vivo e húmido que me desafia e atrai,
onde me encontro e perco.
Oh, ama-me. Sem horas. Sem palavras.
Deixa-me esperar contigo a madrugada.
Sim, deixa que os meus dedos
como potros em fuga percorram mil vezes as dunas do teu corpo
e se escondam depois para dormir nos teus cabelos.
Deixa-me penetrar em ti como se fosse a última vez
e nada existisse depois.
Deixa que todo o amor percorra as nossas veias
até que nos doa o sangue,
até que os beijos nos desfaçam a boca
e os nossos corpos atinjam o orgasmo das estrelas e das rosas,
até que nada nos separe
a caminho de nós.
(Joaquim Pessoa)
Revelam-se puros os meus dedos sobre
a tua pele, onde me deito e o desejo rasga
a minha voz em asas de silêncio.
Acendem-se como lâmpadas para te encontrar
e, como aves libertas, acordam a noite,
poisam devagar nas tuas pernas,
debicam os teus seios
e descem lentamente as tuas costas até ao fundo e surpreendem-se,
enlouquecem as tuas nádegas macias e brancas,
quentes, como os alegres pães da minha infância.
E o teu corpo estremece, desperta para uma interminável madrugada,
onde não há palavras,
onde não são precisas palavras,
e uma intensa alegria tem o sabor dos teus beijos
quando os nossos lábios acendem uma fogueira de rosas
que ilumina a solidão pela noite fora.
E tudo me perturba. De tudo me esqueço
quando nos tocamos, assim, até ao fundo.
Quando me ofereces no teu corpo a paisagem livre e apetecida
de um campo perfumado,
um sereno lago,
o bosque vivo e húmido que me desafia e atrai,
onde me encontro e perco.
Oh, ama-me. Sem horas. Sem palavras.
Deixa-me esperar contigo a madrugada.
Sim, deixa que os meus dedos
como potros em fuga percorram mil vezes as dunas do teu corpo
e se escondam depois para dormir nos teus cabelos.
Deixa-me penetrar em ti como se fosse a última vez
e nada existisse depois.
Deixa que todo o amor percorra as nossas veias
até que nos doa o sangue,
até que os beijos nos desfaçam a boca
e os nossos corpos atinjam o orgasmo das estrelas e das rosas,
até que nada nos separe
a caminho de nós.
(Joaquim Pessoa)
14.1.06
Os Jardins de Adónis III
Foto retirada de www.flickr.com/
Estranhos à terra, os namorados
O jardim os esconde do tempo
E pela alameda vão castos
Criando um puro sentimento
Para um vago paraíso deslizam
Numa luz chireante de beijos
Riem-se da morte e em seus riso
Jorra o claro riso dos deuses.
Figuras de uma indemne passagem
Entre os nossos letais desacertos,
Quem são esses vultos de aragem?
Ninguém sabe de que vida são feitos.
Que língua falam? Talvez os pássaros
Entendam seus sons estrangeiros.
Serão um sonho sob os álamos
Ou os únicos seres verdadeiros?
Onde vão? Misteriosos só param
Para ciciar dentro de um rainúnculo
Um segredo que as flores intactas
Repetem até ao fim do mundo.
(Natália Correia)
Estranhos à terra, os namorados
O jardim os esconde do tempo
E pela alameda vão castos
Criando um puro sentimento
Para um vago paraíso deslizam
Numa luz chireante de beijos
Riem-se da morte e em seus riso
Jorra o claro riso dos deuses.
Figuras de uma indemne passagem
Entre os nossos letais desacertos,
Quem são esses vultos de aragem?
Ninguém sabe de que vida são feitos.
Que língua falam? Talvez os pássaros
Entendam seus sons estrangeiros.
Serão um sonho sob os álamos
Ou os únicos seres verdadeiros?
Onde vão? Misteriosos só param
Para ciciar dentro de um rainúnculo
Um segredo que as flores intactas
Repetem até ao fim do mundo.
(Natália Correia)
12.1.06
Clandestinas madrugadas
Foto retirada de http://pro.corbis.com/
Quando
A noite geme
Baixinho
E vagueamos
Clandestinas madrugadas
Quando
Te encolhes
No meu peito
Silencias nos meus braços
E te fazes tão imensa
Quando
O desejo nos enlaça
E as mãos se libertam
Ansiosas
Quando
O fogo nos consome
Num ímpeto de prazer
E de calor
Há momentos de sono
E aventura
Há rios de amor
E de ternura
Há palavras rubras
De desejo
Há infinitos por detrás
De cada beijo
Há um corpo ardente
Que se abraça
Há lábios de fogo
E de loucura
Sedentos de beber
Na mesma taça.
(Albino Santos Oliveira)
Quando
A noite geme
Baixinho
E vagueamos
Clandestinas madrugadas
Quando
Te encolhes
No meu peito
Silencias nos meus braços
E te fazes tão imensa
Quando
O desejo nos enlaça
E as mãos se libertam
Ansiosas
Quando
O fogo nos consome
Num ímpeto de prazer
E de calor
Há momentos de sono
E aventura
Há rios de amor
E de ternura
Há palavras rubras
De desejo
Há infinitos por detrás
De cada beijo
Há um corpo ardente
Que se abraça
Há lábios de fogo
E de loucura
Sedentos de beber
Na mesma taça.
(Albino Santos Oliveira)
11.1.06
Soneto de Amor
Foto retirada de http://pro.corbis.com/
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma … Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas …
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua …, – unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois … – abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada …
Deixa a vida exprimir-se sem disfarce!
(Eugénio de Andrade)
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma … Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas …
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua …, – unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois … – abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada …
Deixa a vida exprimir-se sem disfarce!
(Eugénio de Andrade)
9.1.06
Coisa amar
Foto retirada de http://pro.corbis.com/
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
Num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
(Manuel Alegre)
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
Num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
(Manuel Alegre)
7.1.06
No rosto os olhos ...
Foto colhida em http://pro.corbis.com/
No rosto os olhos são o sonho
Pelos lábios afloram silêncios
e trazes no corpo
a brisa da água
Girasol de uma manhã
Manhã de orvalho
Manhã de Amor.
(Fernando Bouça)
No rosto os olhos são o sonho
Pelos lábios afloram silêncios
e trazes no corpo
a brisa da água
Girasol de uma manhã
Manhã de orvalho
Manhã de Amor.
(Fernando Bouça)
6.1.06
Cosmocópula
Foto retirada de http://pro.corbis.com/
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as pernas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro
(Natália Correia)
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as pernas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro
(Natália Correia)
4.1.06
Dia de Outono
Foto colhida em http://pro.corbis.com/
Senhor: é mais que tempo. O verão foi muito intenso.
Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
e por sobre as pradarias desata os teus ventos.
Ordena às últimas frutas que fiquem maduras,
dá-lhes ainda mais uns dois dias de calor,
leva-as à completude e não deixes de pôr
no vinho pesado sua última doçura.
Quem não tem casa não a irá mais construir.
Quem está sozinho vai ficá-lo ainda mais.
Insone, há de ler, escrever cartas torrenciais
e correr as aléias num inquieto ir-e-vir
enquanto o vento carrega as folhas outonais.
(Rainer Maria Rilke)
Tradução de José Paulo Paes
Senhor: é mais que tempo. O verão foi muito intenso.
Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
e por sobre as pradarias desata os teus ventos.
Ordena às últimas frutas que fiquem maduras,
dá-lhes ainda mais uns dois dias de calor,
leva-as à completude e não deixes de pôr
no vinho pesado sua última doçura.
Quem não tem casa não a irá mais construir.
Quem está sozinho vai ficá-lo ainda mais.
Insone, há de ler, escrever cartas torrenciais
e correr as aléias num inquieto ir-e-vir
enquanto o vento carrega as folhas outonais.
(Rainer Maria Rilke)
Tradução de José Paulo Paes
3.1.06
Charneca em flor
Foto retirada da net
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciadas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
(Florbela Espanca)
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciadas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...
Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
(Florbela Espanca)
1.1.06
Feliz 2006 !
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