10.2.06

Para o meu coração ...

Alfred Gockel, Body Language III

Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a tua alma.

És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência.
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.


(Pablo Neruda)

6 comentários:

wind disse...

Adoroooooooooooooooooo o Pablito:))) Lindo poema e bela imagem:-) beijos e bom fim de semana*

SaoAlvesC disse...

Pablo Neruda sempre, sempre e muito :)

Adorei passar por aqui.
bjito e bom fim de semana.

lena disse...

a imagem é linda e o que posso dizer de táo belo poema de Pablo Neruda?
deixo-te um dos poemas que mais gosto dele e que muito me toca:

Adeuses

Oh adeuses a esta e àquela terra,
a cada boca e a cada tristeza,
à lua orgulhosa, às semanas
que enrolam os dias e desaparecem,
adeus a esta e àquela voz tingida
de amaranto e de adeus
à cama e ao prato do costusme,
ao lugar vesperal dos adeuses,
à cadeira casada com o mesmo crepúsculo,
ao caminho que os meus sapatos fizeram.

Difundi-me, não há dúvida,
troquei de existências,
mudei de pele,de lâmpada, de ódio,
tive que o fazer
não por lei, não por capricho,
mas sim por escravidão,
acorrentou-me cada novo caminho,
ganhei gosto à terra,a toda a terra.

E de repente disse adeus, recém-chegado,
com a ternura ainda recém-partida
como se o pão abrisse e de repente
fugisse da mesa de toda a gente.

Afastei-me assim de todos os idiomas,
repeti os adeuses como uma porta velha,
mudei de cinema, de razão, de sepultura,
afastei-me duns sítios para outros,
e assim continuei sendo, meio
desmantelado na alegria,
nupcial da tristeza,
sem jamais saber como nem quando
se está pronto para voltar, não voltando.

Sabe-se que o que regressa não partiu,
e assim na vida andei e desandei
mudando de roupa e de planeta,
habituando-me à companhia,
à multidão desterrada,
à grande solidão dos sinos.

Pablo Neruda
in "Plenos Poderes"

um beijo para ti muito grande, partilhas sempre poemas lindisssimos

lena

murmurio do silencio disse...

Bom gosto, muito mesmo. Pablo Neruda rouba-me as palavras que poderia dizer sobre este poema. Resta-me agradecer-te a escolha e deixar-te um beijo e o desejo de um bom fim de semana

Kalinka disse...

ADORO PABLO NERUDA...
Desde que vi o filme: O carteiro de Pablo Neruda, fiquei fascinada pelo escritor e pela sua obra.
Óptima escolha pela poesia e pela imagem conjunta.

Passei para te agradecer a tua ida ao meu kalinka, deste a tua opinião sobre Sua Santidade e, eu já te respondi lá mesmo.
Beijokas e bom fim de semana.

Blog do Mancha disse...

Neruda o conhe ci com dez anos e sua poesia me acompanha desde então,e algo me aproximou dele veu vô faleceu na mesma época,SENTIS A ALMA ENTÃO SENTES AS VIRTUDES E AS LIMITAÇÕES DELA.