Imagem colhida na net, aqui. Água viúva, chuva louca, ave estonteante,
sonho de triunfos como a nova folhagem,
escapa-se da morte, é a macieira na tempestade
e ainda louca, louca ainda e transparente, quase seda azul
treme como uma canção e como as cores da distância,
quando a luz carregada de frutos e de uma água de cigarras
veste as agulhas do pinheiro de pequenos recados para o vento.
As víboras acordam a erva carregada de instantes,
o desespero impiedoso abre trincheiras na saudade
onde as mãos descobrem o crime, as abelhas por terra,
a lua na relva, apatetada e doce.
Começa o vinho por recordar os olhos bêbedos de tristeza
e a uma porta, finalmente a uma porta, um guerreiro reúne
o silêncio das ágatas sob as vigias do vento.
O campo cobre-se de cidades que florescem das espadas
e nos ombros de um sangue imemorável aconchega-se o remorso
como um cisne no orvalho. O medo solta
os cavalos do amor e as últimas pombas.
O azul é, decerto, a memória de outro céu profundo.
Antes, muito antes do fogo, como arderam as lágrimas?
(Joaquim Pessoa)