17.1.06

Revelam-se puros os meus dedos ...

Nudes IV, de Alfred Gockel

Revelam-se puros os meus dedos sobre
a tua pele, onde me deito e o desejo rasga
a minha voz em asas de silêncio.
Acendem-se como lâmpadas para te encontrar
e, como aves libertas, acordam a noite,
poisam devagar nas tuas pernas,
debicam os teus seios
e descem lentamente as tuas costas até ao fundo e surpreendem-se,
enlouquecem as tuas nádegas macias e brancas,
quentes, como os alegres pães da minha infância.

E o teu corpo estremece, desperta para uma interminável madrugada,
onde não há palavras,
onde não são precisas palavras,
e uma intensa alegria tem o sabor dos teus beijos
quando os nossos lábios acendem uma fogueira de rosas
que ilumina a solidão pela noite fora.
E tudo me perturba. De tudo me esqueço
quando nos tocamos, assim, até ao fundo.

Quando me ofereces no teu corpo a paisagem livre e apetecida
de um campo perfumado,
um sereno lago,
o bosque vivo e húmido que me desafia e atrai,
onde me encontro e perco.

Oh, ama-me. Sem horas. Sem palavras.
Deixa-me esperar contigo a madrugada.
Sim, deixa que os meus dedos
como potros em fuga percorram mil vezes as dunas do teu corpo
e se escondam depois para dormir nos teus cabelos.

Deixa-me penetrar em ti como se fosse a última vez
e nada existisse depois.
Deixa que todo o amor percorra as nossas veias
até que nos doa o sangue,
até que os beijos nos desfaçam a boca
e os nossos corpos atinjam o orgasmo das estrelas e das rosas,
até que nada nos separe
a caminho de nós.

(Joaquim Pessoa)

3 comentários:

wind disse...

Sou completamente apaixonada por estes poemas de desejo eeróticos de Joaquim Pessoa:) Linda imagem a condizer com o poema;) beijos

Jorge Moreira disse...

Numa espiral orgásmica, este poema flúi de amor e desejo.
Beijinhos,

murmurio do silencio disse...

Um bom poema sobre o desejo, sobre o amor em forma de desejo.Uma boa escolha.


beijo :)