28.4.06

O Corpo

Imagem colhida aqui

É pêssego
Tangerina
E é limão

Tem sabor a damasco
e a alperce

Toma o gosto da canela
de manhã
e à noite a framboesa que se despe

De maça guarda o pecado
e a sedução

Do mel
o açúcar que reveste

Do licor
a febre que no seu rasgão
me invade me inunda e me apetece

Mergulho depressa a minha boca
e bebo a sede
que em mim já cresce

Delírio que me enche
de prazer
tomando o ponto num lume que humedece

Devagar mexo sem tino
as minhas mãos

Provando de ti
o que de ti viesse

O anis do esperma
o doce odor do pão
que o teu corpo espalha e enlouquece

(Maria Teresa Horta)

20.4.06

Os Jardins de Adónis III

Imagem colhida aqui

Estranhos à terra, os namorados
O jardim os esconde do tempo
E pela alameda vão castos
Criando um puro sentimento

Para um vago paraíso deslizam
Numa luz chireante de beijos
Riem-se da morte e em seus riso
Jorra o claro riso dos deuses.

Figuras de uma indemne passagem
Entre os nossos letais desacertos,
Quem são esses vultos de aragem?
Ninguém sabe de que vida são feitos.

Que língua falam? Talvez os pássaros
Entendam seus sons estrangeiros.
Serão um sonho sob os álamos
Ou os únicos seres verdadeiros?

Onde vão? Misteriosos só param
Para ciciar dentro de um rainúnculo
Um segredo que as flores intactas
Repetem até ao fim do mundo.

(Natália Correia)

12.4.06

Desafio

Foto colhida na net aqui

A Fome

"Vi ontem um bicho, na imundície do pátio, catando comida entre os detritos (...) O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem."


As estrelas ao longe
A cidade maravilhosa
A escuridão claramente triste
Testemunhavam:

A fome.

Encarcerada nos escombros,
Nos corpos imunes -
Crianças, grávidas, velhos, desempregados -
Nas bactérias resistentes tanto quanto ao calor
Humano!

A Vigilância Sanitária diz:
"O calor descaracteriza o produto
não serve para a alimentação
humana".

Humana?...

A Polícia tenta conter,
As lágrimas,
Diante das cinzas,
Dos miseráveis,
Superiores aos de Victor Hugo:
"Não tenho coragem de coibir".
Irajá, Acari,

Vigilância, bactérias,
Cinzas, rebentos,
Polícia, alimentos,
Ceasa, o calor...
Artistas kafquianos?
O frio

De nossa desumanidade errática.

(Juscelino Mendes)

O desafio: Divulgar para Ajudar ...

O desafio, se o aceitarem, consiste em divulgar uma associação humanitária da vossa escolha, Nacional ou Internacional. Eu convido-vos a clicar em Receitas Contra a Fome.

Um post, um link, um símbolo, um gesto solidário ...

Depois desafiem outros cinco à criatividade e à inspiração. pois divulgar também é uma forma de ajudar ...

Eu desafiei Anomalias, Bufagato, Jorge Moreira, Outra Voz e Webclub.

7.4.06

Não tenhas medo do amor

Foto colhida aqui

Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a
crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.

(Maria do Rosário Pedreira)