18.11.06

Água viúva, chuva louca, ave estonteante

Imagem colhida na net, aqui.

Água viúva, chuva louca, ave estonteante,
sonho de triunfos como a nova folhagem,
escapa-se da morte, é a macieira na tempestade
e ainda louca, louca ainda e transparente, quase seda azul
treme como uma canção e como as cores da distância,
quando a luz carregada de frutos e de uma água de cigarras
veste as agulhas do pinheiro de pequenos recados para o vento.
As víboras acordam a erva carregada de instantes,
o desespero impiedoso abre trincheiras na saudade
onde as mãos descobrem o crime, as abelhas por terra,
a lua na relva, apatetada e doce.
Começa o vinho por recordar os olhos bêbedos de tristeza
e a uma porta, finalmente a uma porta, um guerreiro reúne
o silêncio das ágatas sob as vigias do vento.
O campo cobre-se de cidades que florescem das espadas
e nos ombros de um sangue imemorável aconchega-se o remorso
como um cisne no orvalho. O medo solta
os cavalos do amor e as últimas pombas.
O azul é, decerto, a memória de outro céu profundo.

Antes, muito antes do fogo, como arderam as lágrimas?

(Joaquim Pessoa)

6 comentários:

  1. Belíssimo, como quase todos de Joaquim pessoa:)
    Beijos

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  2. ...arderam as lágrimas...água viúva...chuva louca...ave estonteante...como ardem os poetas?como queimam as suas lágrimas?Com que fogo, com que água???
    Um abraço do Morfeu

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  3. «Começa o vinho por recordar(...)» as alegrias que nos obrigam a esquecer.

    Agradecemos o teu tom rosa Pink.

    Não nos toques onde nos doi mas continua a trazer a beleza.

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  4. Gostei muito das palavras. Sabe bem voltar.
    Bj
    Gui

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  5. Lindo, como sewmpre ( os meus endereços estão alterados)
    bjs doces

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  6. Já o tinha comentado no outro "lado"... gosto muito da Poesia de Joaquim Pessoa!

    Bj ;)

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